quinta-feira, 2 de junho de 2011

Final de uma sinfonia

Nuvens negras atravessavam o vale na mesma medida em que os cascos do cavalo batiam com violência no chão duro daquela passagem romana.
Nada se ouvia, nem pássaros, nem os pequenos animais que costumavam abordar os viajantes na estrada do norte, nem mesmo os grandes veados que costumavam pastar no coração da mata.
Phyxiux viajava sozinho, a toda a velocidade antes que a chuva começasse a cair por cima de sua vestimenta, não havia muito mais a fazer se não chegar ate a remota vila de Vanehein, o vento frio cortante típico daquela região se fazia sentir mesmo sem ser convidado.
Contudo nada fazia prever os acontecimentos daquela manha.
O jovem fazia o caminho como quase todos os dias, apenas a sua urgência era incomum, e mesmo os que habitavam as proximidades da estrada acostumados com o seu passar, estranharam o corte pouco suave de sua montada que em alguns pontos abafava completamente qualquer outro som.
Os motivos que o levaram a viajar aquela velocidade é nos desconhecida, apenas sabemos que o final de sua jornada não lhe foi muito favorável, pois numa das muitas travessias ele foi apanhado numa armadilha premeditada.
Flechas surgiram vindos das trevas das árvores protegidas pelas sombras das árvores que cobriam densamente aquela travessia. Ele não emitiu um único som, relatou um habitante da floresta. Ele abraçou o seu destino e deixou-se ser levado pelo seu triste destino. A chuva caia intensamente naquele instante, uma chuva fina que lavava as pedras do caminho romano do sangue deixado pelo corpo do rapaz.
Quem analisou o caso deu o veredicto de que ele teria sido assassinado pois todos os seus bens continuavam presos ao seu corpo, e o seu cavalo permanecia parado, ao lado do seu dono, um laço que poucos conseguiam fazer com mestria, fazer de uma besta, um leal companheiro de batalhas e dia a dia.
Foi em Ábaco, que o seu corpo foi carregado, uma ultima viajem de cavalo e cavaleiro, uma visão aterradora para os seus companheiros de armas, e uma visão triste para os que lhe eram mais chegados.
O ambiente antes silencioso deu lugar a uma melodia melancólica do acto fúnebre. Canções que lembravam o seu valor, canções que tentavam apaziguar os corações daqueles que ficavam nesse mundo. Não se consegue descrever cada som, não se consegue traduzir as palavras que eram proferidas pelos familiares e amigos, não nos é possível sequer chegar perto de interpretar cada pingo de chuva, cada raio, cada trovão que se juntavam a já triste melodia do cortejo fúnebre.
Nas margens do rio estava o barco preparado, ornamentado com tulipas brancas que estranhamente cresciam mesmo quando o frio era intenso, com o escudo de sua casa, e com as lanças que sempre carregava em suas batalhas e aventuras, o corpo, coberto com a sua túnica azul mar, com relevos em dourado fazendo o desenho perfeito da flor de liz e eras que cobriam uma cabeça de lobo, os braços cruzados com as mãos colocadas simbolicamente sobre o copo da espada longa, Valina, a espada que cortou a cabeça de Luminus, um rei tirano que ocupava-se daquela região nórdica. Uma coroa prateada repousava em seus cabelos cor de trigo, e o seu semblante carregado e preocupado.
Nunca iremos saber o que fez com que as infames Flechas tivessem se servido de seu peito para repousar as suas ponta, nunca iremos saber o que fez com que a vida do filho, pai e amigo, fosse levada para junto de Odim, a única coisa que vamos saber, é a dor que a sua perca deixa.
Duas moedas de cobre foram repousadas em seus olhos por sua filha, uma leve oração foi proclamada para que o barco fosse conduzido a bom Porto pelo barqueiro, que conduzia os mortos pelo rio Svern até as portas de Valhalla. Agora ele iria ocupar o seu lugar em Asgard. Ábaco foi morto para acompanhar o seu dono na viajem e o servir no mundo dos mortos, tudo detalhado e preparado.
Os arqueiros com as Flechas em fogo estavam a espera do sinal de sua mãe para lançarem na noite o cortante silvo de suas setas sobre o barco. Quando o sinal foi dado, oito arqueiros li erraram a tenção dos cordéis amarrados em vara e fizeram com que os projecteis flamejantes.
O barco aos poucos começava a transformar-se numa bola de fogo, cobrindo de luz a sua viajem.
Mais lágrimas acompanhadas de mais cantigos surgiam, a chuva entretanto tinha acabado a sua participação no cortejo. Os murmúrios seguiram-se pela noite, mas o mal causado nunca será recuperado, e no final, houve somente dor no meio do gélido frio que teceu essas linhas que vos deixo.